É Hora Saudade, É Hora




É hora de deixar a velha saudade à porta,
Lá fora esquecida no mundo perdido.
Está na hora de a algemar entre um livro,
Deixar abandonada a tristeza… já morta!

Não sei se por ti esperarei, saudade,
Muito menos sei se me irás escoltar
Por renovados mundos de perpetuidade,
Entre saudades e dores a desvendar.

Chegou a hora de a sentires no peito,
Chorar como quem chora de despeito,
Nas vestes envergadas p’lo vagabundo!

Chegou a hora de experimentares morrer,
Como quem morre na alma… só para nascer.
Cantar a saudade do poeta … no seu mundo.


Carla Bordalo


The Deep End



 













O comboio partiu já cheio de gente
Apitando pelo Douro, nem nos viste.
Ai amor, estivemos sempre à tua frente,
Corroendo os carris do Rio em que partiste!

A Estação acorda sempre azul e triste
Com vagões de Barca d’Alva já ausente.
Embarcou no trem do Cais do Oriente
Em passos largos, de quem assiste.

As linhas permanecem para sempre
Nos esmeros passageiros duma mente,
Apinhados em bagagens de quem desiste.

Passaram anos conjugados e nem sentiste
Os ponteiros cronometrados que seguiste
A vigésima quinta locomotiva, eternamente!


Carla Bordalo