Escrava da Língua


 Mulher que te sentas
Nos degraus das escadas
Com tuas comadres,
Da vida alheia
Das gentes que passam
E delas falando…

Em dias de sol
Na sombra estás
Sentada, postada
Vendo quem anda
Nas lidas da vida
P’ra frente e p’ra trás!

Sem dó, nem piedade!
Por mais doce que seja
O sumo da laranja,
Mulher de idade…
Da tua boca só saem
Amargas palavras.

Maldita mulher,
Que tanto inventas
E juras saber
Da vida dos outros
E pés juntos rezas…
E quem tanto desprezas.

Comadres sentadas
Naquelas escadas…
Atentas meninas solteiras
De casa não saiam
Que dessas mulheres
Serão prisioneiras!

Mulher venenosa
Que tanto sorris
Desdenhas da forma
Que a vida nos toma
Pensando malvada
Que és algum juiz.

Mulher desprezível
Que sonhas de noite
Descobres segredos,
Inventas histórias,
Com tuas comadres
Situações irrisórias.

Calcada no tempo
Enfeitas a fala
Malvada que és,
Cuspindo veneno
A cobra serpente
Nem chega a teus pés!

Mulher tão profana
Escrava da língua,
Não tens coração.
Um dia ainda vou
Lavar tua boca
Com água e sabão!

Carla Bordalo